Foi bonita a festa, pá. Habituado aos blips históricos de outros clubes ganharem campeonatos, esperava já a conquista deste com a tranquilidade a que fui habituado. Sem mais espinhas, vamos escalpelizar o que aconteceu ontem – e, em jeito, o que aconteceu no campeonato inteiro – com argumentos factuais de quem, caganças à parte, agora pode cantar de galo à vontade.
1 – O jogo. O Benfica ontem perdeu, e perdeu bem. A arbitragem foi meia merdosa como sempre (um penalty enfiado à pandilha do Jesus que o Duarte Gomes, graças a Deus, assinalou contra nós, porque assim não há mesmo hipótese de sermos acusados de termos, além dos tomates, providenciado mais fruta ao árbitro; um javi que devia ter sido expulso, ele que diz que o futebol é um desporto de homens – deve confundir masculinidade com atrasadice mental – e um ottamendi mal expulso, bem mal expulsozinho, entre outros casos), mas foi igual. O porto fez o seu jogo e o Benfica o seu. Cada equipa jogou na sua identidade: o Benfica com a sua “vertigem de velocidade”, com o villas-boas lhe chama (e bem) e o porto com um futebol mais frio e baseado na construção de um jogo em passes curtos e movimentações posicionais tecnicamente precisas. Não mastigando as palavras: demos um banho de bola, caralho, com o porto a jogar à porto, em casa do Benfica, olhos nos olhos. Ouvi o Jesus dizer que o porto teve uma pontinha de sorte. Poupem-me. São declarações feitas numa envolvência á qual já lá irei. Portanto, conclusão número uno: o porto mereceu ganhar o jogo, temos pena. É a segunda vez que ganha limpinho ao Benfica esta época. Talvez até seja isso que os deixe mais lixados. Adiante.
2 – O depois do jogo. Foi ou não foi bonita a festa, pá? Quer dizer, não deu bem pa ver. Tava escuro e tal. Há aqui duas formas de se lidar com a coisa, quando não se é do Benfica: ou levar na brincadeira, como o villas-boas e o pinto da costa (o que só chateia ainda mais os inúteis que, ao tomarem aquele gesto, mostraram claramente que a azia que sentem é maior do que a hombridade que têm enquanto indivíduos, o que automaticamente os rotula de fracos de espírito), ou perceber o que aquilo é: um perigo objectivo e real para a bófia e para os adeptos.
3 – O que nos leva ao ponto seguinte, quiçá o mais importante: estou farto desta merda, mesmo. Desta rivalidade ridícula criada por pintos da costa e Filipes vieiras e comentadores televisivos que vivem para o soundbyte. Qualquer adepto que se preze tem de estar farto. Estas merdas só criam ódios e o ódio gera sempre mais ódio. Gosto do porto pa caralho e queria era ver o Benfica na segunda liga porque gosto é de os ver a perder tudo. Mas foda-se, é só futebol. É só uma agremiação desportiva. Temos autocarros e carros apedrejados (ou incendiados), apelos à violência por parte de malta da Benfica tv, e adeptos imbecis que são piores que os putos – porque convenhamos, que foi o apagar das luzes do estádio das trevas não mais do que uma infantilidade? Sejam homens, caralho, saibam perder! – mesmo que os putos caguem no assunto quando se chateiem e fique tudo bem dez minutos depois. Temos gajos cheios de ódio a falar para as câmaras, a postarem em blogs, e os culpados são os clubes, que permitem que isso aconteça, que dão guarida a esses actos. Estou farto, foda-se. No ano passado vi o extremar de posições dos benfiquistas, completamente embriagados por um discurso de soberba de serem os maiores do mundo e de serem os maiores no campo e de praticarem o maior futebol e de serem os maiores na cama até com ouriços cacheiros. E essa merda era falsa. Era falsa porque o Benfica NÃO é o maior clube do mundo. Em termos de adeptos, talvez? Duvido bastante. Mas em termos de projecção e qualidade desportiva NÃO é. E essa soberba e essa irrealidade é alimentada pelo clube, essa “mística” que faz com que, incumbidos de provarem essa superioridade moral aos outros, sintam que tudo o que fazem se justifica porque os outros ou são merda, ou são corruptos. E o Benfica bem que ganhou na época passada, com um futebol avassalador, mítico, provavelmente o melhor Benfica de sempre…à última jornada e meio à rasquinha. Esta época o porto teve melhor ataque, melhor defesa, e mais pontos que o Benfica, da época passada e desta época. E isso é o quê? Uma profunda irrelevância, parece. E, digo – ainda bem. Não dormir à sombra da nossa soberba é bom. Sentir que se tem que provar alguma coisa a essa cegueira colectiva é bom. Claro que não serve para nada. A 16 pontos e a 5 jornadas do fim, infinitamente melhores que qualquer Benfica da era moderna, ainda somos uma equipa de jogadores de merda (nenhum serve pa ser lampião) que foi levada ao colo pelos árbitros. O Benfica por outro lado, nem na merda da liga dos campeões se aguentou. Temos os jornais para alimentar essa amnésia selectiva: também eles são coniventes.
4 – O futuro. O que prejudica bem mais o Benfica do que beneficia. A incapacidade de se debruçarem sobre o que falhou quando as coisas correm mal e o que deve continuar a correr bem quando as coisas correm bem sempre foi um problema da malta ali do alto dos moinhos. Vimo-lo na época passada e, mais do que isso, vemo-lo nas épocas em que o Benfica perde. A culpa é dos corruptos; dos árbitros; do treinador aqui ou ali, ou do frangueiro do roberto em certos casos. O problema é sempre mais estrutural do que conjuntural, mas a Bola e outros jornais, comentadores e adeptos irados não mais fazem do que centrarem-se na rocha e não olharem para a montanha. E isso beneficia o porto que, mais discreto nos escaparates, não leva com tanto ruído em cima. Enquanto continuar a existir a ideia de que o Benfica é vítima da própria realidade, nunca poderá ser um clube vencedor. Enquanto tiver gajos com o Fábio coentrão que diz que acha que consegue vencer o porto por 2 ou 3, o Benfica nunca será vencedor. E enquanto os arautos das suas fundações foram jagunços como o luís Filipe vieira ou aquele imbecil vice-presidente do benfas do dia seguinte, que escolhe a irracionalidade e o picanço ao desportivismo e ao cavalheirismo lúcido, o Benfica nunca será um clube vencedor. Para o ano há mais, como sempre. E, em princípio, o campeão será outra vez o porto.
Enquanto as coisas não mudarem e continuarmos a achar que dá mais pica ganhar campeonatos em clima de guerra porque a azia dos outros fica maior, siga pa bingo.