Desde há muito defendo que o Pinto da Costa se devia ter demitido da presidência do Porto. Estas escutas que saíram ontem não mudam nada. Defendo que se devia ter demitido ou a) quando o porto ganhou a liga dos campeões, ou b) quando as primeiras escutas saíram e se viu implicado no ressuscitar do apito dourado.
É bom que se vejam as coisas com alguma atenção ao pormenor e visão fria, clubismos à parte. Temos um processo aberto e arquivado3 vezes por falta de provas – ou seja, fundamentação de matéria de facto para a acusação – em que a terceira vez que foi aberto se deveu às declarações de uma puta vertidas em “livro” que viram-se, mais tarde, terem sido completamente enfabuladas; enfrenta agora a mesma processo-crime nos tribunais criminais por perjúrio, entre outros crimes. Processo esse aberto contra o presidente do Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa.
Duas conclusões podemos retirar disto: a primeira, é que não é normal um processo ser aberto três vezes para 3 vezes ser arquivado; e, aí, podemos ficar com a aura de suspeita contra o sistema processual penal e da ideia de que existem interesses – clubísticos ou outros – em tentar prejudicar o presidente de um clube ganhador; ou por outro lado, podemos ficar com essa mesma aura de suspeita contra o sistema processual penal por existirem interesses que arquivam um caso já aberto 3(!) vezes contra alguém – o que não é normal, mesmo num sistema com a presunção de inocência. Pela minha parte, talvez seja um pouco de ambos, e ambos com bem menos relevância do que as pessoas lhe dão.
A segunda conclusão que podemos retirar é que são já vezes demais – sempre absolvido ou não, com escutas ou não – que um presidente é envolvido em escândalos com árbitros. E aí, para bem do saneamento deste mundo porco e sujo que é o futebol, só a demissão restaria só restaria aos honrados – mesmo aqueles que sabem ser inocentes. A figura máxima de uma instituição que tanto significa em Portugal e no estrangeiro (admitamos) não se pode compadecer com a certeza da sua própria inocência. O Porto será sempre mais que ele e a ambição máxima dos seus dirigentes deve ser respeitá-lo. Daí a demissão que defendo e consideraria natural. Como podem ver, não sou fã do Pinto da Costa.
Porque isto prejudica o Porto e a sua estrutura, os seus adeptos. Para o adepto insulto fácil é o chamarem-nos de corruptos; é sentirmos essa injustiça quando vemos o porto a jogar bem, a ganhar bem, a dominar (com justiça) todo o panorama futebolístico (e não só…) de todo o século XXI até ao presente e, mesmo assim, ficarmos sempre com as nuvens da corrupção e dos resultados adulterados, dos árbitros comprados, a cada vitória. E eu percebo o adepto adversário, porque talvez sentisse o mesmo enquanto beufiquista bronco ou sportinguista “diferente” (leia-se: conas nato). E que não se negue: o portista adepto sente vergonha – acreditando ou não na inocência do pinto da costa, da veracidade das escutas, dos cortes cirúrgicos com que foram mandadas para o youtube e com a devassa nojenta e insuportável que é levar para a praça pública elementos secretos de um processo arquivado (secretos por isso mesmo, para impedir o julgamento público de um presumível inocente que por tal foi considerado pelo tribunal) – de tudo isto. Sente vergonha. Eu sinto vergonha porque esta merda era escusada. Nunca ouvi as escutas porque sinto que é desrespeitar o sistema processual penal e que toda a gente deve ter direito à sua privacidade: daí as escutas destruídas deverem ter sido.
Mas o facto é este: é uma vergonha, é vergonhoso. Para o porto, para os seus adeptos, para a figura presidencial brilhante que ali está à frente que fode com putas, manda caralhadas a torto e a direito (como homem do norte que se preze) e gosta demasiado do porto, demasiado para seu bem.
Fazia bem os sportinguistas e os benfiquistas admitirem que não há campeonatos, desde o penta, pelo menos, em que o porto não tenha sido um justo vencedor – aliás, uma das provas incriminatórias contra o porto era o corrompimento de um árbitro no jogo porto-estrela em que o porto, curiosamente, já era pontualmente campeão – e também considero, injustiças desportivas à parte (este ou aquele penalty mal assinalado ao longo da época, etc), que o Sporting e o benfica foram justos campeões quando o foram. O Benfica jogou quase sempre contra dez e teve sempre penalties marcados a seu favor, mas raios, não digam que não praticaram o melhor futebol na época passada.
Tal como o porto nas épocas em que ganhou. A Europa comprova que o porto não precisa de árbitros para ganhar; para chegar longe. Os resultados lá fora são a prova de que o clube está bem e recomenda-se, só pensa em ganhar, e tem tido platel e treinador para isso. Infelizmente, continuamos apenas a ser presididos por um presidente que, enquanto lá estiver, deixará sempre uma nuvem negra de suspeição e corrupção que, temo, irá perdurar no clube muitos, muitos anos após ele sair.
E isso terá sido a pior coisa que fez ao porto. Para mim, é insuportável sentir que todas as vitórias vão ser inquinadas pela boca fácil da corrupção, pelos outros adeptos. E embora todas sejam ditas por azia custa.
Daí pedir alguma sanidade para se admitir que – sinceramente. O porto ganha e joga bem. Não há aqui corrupção. Depois do apito dourado, essa merda são fábulas.
Podemos todos concordar com isso?