Paulo Bento:
Igual a si próprio. Se há coisa de que ninguém o pode acusar, é de não dizer o que pensa. Ele diz. Foi assim quando se despediu da selecção. Foi assim quando terminou a carreira. E foi assim hoje. Não se pode negar que Paulo Bento fez um bom trabalho à frente do Sporting. Com orçamentos inferiores e com plantéis sempre débeis, conquistou quatro troféus e disputou o campeonato até quase ao fim por duas vezes. Queremos mais e precisamos de mais. Mas só a esquizofrenia nos podia levar a considerá-lo mau. Sai agora, podia ter sido antes, é verdade, mas a questão é sempre a mesma. Não era ele o problema, mas a solução já não passava pelo PB. Sai de cabeça erguida. E é nosso dever agradecer a dedicação - e até o facto de ser capaz de sair sem indemnizações ao barulho.
Depois veio o Bettencourt:
E aqui a conferência ganhou níveis de surrealismo. E teve condimentos dignos de Hollywood. Um jornalista enganou-se e referiu a palavra "litígio". Ia dando bronca. Houve drama a vários níveis; Bettencourt visivelmente emocionado, a noção de perda, quase de luto. Uma dimensão heróica atribuída a uma figura (PB), enfim, Hollywood teria gostado do argumento. Não seria um blockbuster, mas era capaz de atrair atenções da Academia. Afinal de contas a Kate Winslet ganhou um óscar por muito menos naquele estopada amaricada do Titanic.
Mas continuando: houve ali erros tremendos. Falar de honra, de valores, não é algo que se possa criticar. Bettencourt fez bem e são palavras que precisam de ser invocadas mais vezes no nosso futebol. Mas um presidente, alguém naquele cargo, que precisava de reunir tropas e prepará-las para as próximas batalhas (perdoe-se o discurso bélico) não pode falar sem pejo em "perda irreparável". O futebol é feito de perdas essenciais. Que não são, não podem ser irreparáveis. Se não o porto tinha morrido depois de Mourinho, a selecção morria depois de Figo (o lugar de capitão continua morto, é verdade, mas isso são outras histórias). E quem diz futebol diz empresas ou até mesmo países. A vida só pode continuar. E nesse aspecto, a conferência do Bettencourt teve muito de emoção (que seria inevitável), mas pouco de racionalidade (que era essencial). Mandou recados para dentro do Sporting, para alguns sócios e simpatizantes. Mas não foi capaz de nos preparar para o que há-de vir. Ficamos só a saber que PB é insubstituível. O que nos deixa a pensar, a nós, sportinguistas, se haverá melhorias nos próximos tempos. Vê-se que Bettencourt está no Sporting por ser sportinguista. Ficamos sem saber se está preparado para ser presidente. E nós precisamos de mais decisões, de mais algumas mudanças e de um discurso mais corajoso, mais incisivo, que permita que se leve o espírito de conquista para dentro de campo. Se não, não saímos isto. Agora segue-se Leonel Pontes. Se aquilo lhe correr bem até acho que são capazes de o contratar. Mas aconteça o que acontecer, precisamos de nos reforçar, precisamos de voltar a ganhar e a impor futebol. Se não este limbo prolonga-se, numa evitável descida aos infernos. Quero mais deste Sporting, porra É meu dever exigi-lo. É dever do Sporting ser capaz de mais. Vamos lá ver no que isto vai dar nos próximos tempos. Como dizia o outro, o futuro segue dentro de momentos.
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