segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A Bola e o direito à mediocridade.

Há muito jornalismo chunga em Portugal. Casos de profissionais isolados, o puro e abrutalhado sensacionalismo, a menos óbvia subserviência ao poder político... os exemplos variam. E depois há coisas que é uma questão de gosto.

No jornalismo desportivo isso aplica-se, com e sem excepções. Sem excepções, falamos dos jornais generalistas - e nesse espaço realça-se alguma procura de imparcialidade na maior parte dos meios, e depois há o surpreendente i. Do i, que não tem tido misericórdia alguma do Sporting, realço a originalidade, nos temas, sim, mas acima de tudo no tratamento. Escreve-se bem sobre futebol, por ali, e essa simples noção é excepcional (e chega a ser embaraçosa para alguma concorrência).

E depois há os jornais desportivos propriamente ditos.

d'o jogo sabemos que só vive do porto e para o porto (clube e cidade). Abaixo de coimbra só excepcionalmente é que vende (como se viu na edição após o apuramento para áfrica do sul, em que a bola e o record até repetiram o título "estamos lá").

Depois há o record, meio centralista, que não é muito abonatório para os do norte (os do clube, não a cidade). ainda batalham na máscara da imparcialidade, mas o que importa são os dois grandes de lisboa. Aí conseguem ser imparciais, o que é bom, que é pelo menos um espirito que ainda vão repercutindo quando o porto (o clube) está na mó de cima.

e depois há a bola, que, excepção feita a um ou outro cronista que se possa gostar (ou odiar e por isso mesmo interessar também), é ridículo. Ontem o sporting derrotou uma pequena equipa numa eliminatória da taça. o benfica foi derrotado em casa por um adversário de respeito do nosso, vá lá, excelso campeonato. não é preciso ter curso de jornalismo (um diploma manhoso das novas oportunidades chegava) ou ver mais do meio minuto de futebol por mês para saber o que nos diz o senso comum.

a bola tem feito capas consecutivas com o benfas: jesus isto, jesus aquilo, eusébio e todos os outros valores simbólicos que garantam a tese de que o benfica carrega e é demolidor e vence toda a gente.

não vence.

dizer isto não é maldade ou atrofio. podemos discutir árbitros, orçamentos, jogadores, favorecimentos, sorte e uma incrível quantidade de relevâncias e irrelevâncias. faz parte e independentemente de qualquer factor, no futebol sabemos que não há invencíveis. nunca. o benfica não é o monstro excepcional que têm dele nem poderia ser porque basta o nível ser equilibrado as dificuldades aumentam. ontem perderam e foram o primeiro grande a ser eliminado da taça. podemos discutir as razões, é certo, mas é notícia. e é mais relevante do que outras.

(tenho andado sozinho nesta luta de desmistificar as exibições do benfica este ano, porque há cada vez mais sportinguistas - falo agora dos meus e cago nos outros - que parecem assustados com o derby que aí vem. não há que ter medo. é futebol, ponto. e quero ganhar, apenas isso)

mas volto ao tema do título e sublinho o seguinte pois só a falta de profissionalismo e falta de vergonha na cara é que justifica o que a bola é nos tempos que correm. jornal sem critérios e merdoso como é, já toda a gente sabe que só vende quando a vida corre bem aos vermelhos. não há jornalismo, não há pudor ou sequer vergonha na cara. hoje a capa é a que se segue:


Miguel Veloso. É leão e o Sporting ganhou e tudo o mais. Mas sejamos honestos: ontem, só a derrota do Sporting seria notícia. Golear os pescadores da caparica é o que é, uma vitória obrigatória (mais um ou menos um golo seria irrelevante). Quanto ao benfica, sofreu a primeira derrota em casa, contra uma equipa difícil, que trabalhou bem. foi futebol (claro que houve mais de sete minutos de desconto de tempo e um estranho acumular de amarelos para um dos lados, mas nada que não tenhamos já visto este ano em jogos na luz). saber que era notícia, com um destaque naturalmente maior, não é jornalismo, é só uma simples questão de lógica.

lógica, a bola ainda tem. a hierarquia de capa é a seguinte: 1 - quando a vida corre bem ao benfica, explora o nome benfica até não poder mais ; 2 - depois é a situação má noutro grande, a novela recente em alvalade foi um bom exemplo; 3 - finalmente, quando o nome benfica está em dia mau de vendas, e a vida corre bem aos outros grandes, ignora-se já sem qualquer critério a situação (independentemente de ser pontual ou não) má na luz. E é aí que se insere a capa de hoje d'a bola. Jornalismo? Disso não temos, responderá aquele jornal. É verdade. Nem jornalismo, nem vergonha na cara, nem brio profissional.

Defendo, por uma questão de liberdade e pluralidade de formas de expressão, o direito à mediocridade. Só acho é que temos de ser honestos quando a mediocridade nos é esfregada na cara e ser capazes de dizer, desta merda eu não quero. E quem quer, que pelo menos perceba que se trata de merda. Agora publicidade enganosa é que não.

2 comentários:

Morales disse...

De acordo, só com um reparo, se me for permitido. lol

Só aceito o "refilanço" com os 7 minutos de desconto de quem não viu o jogo. 50% da segunda parte foi integralmente (pode haver quem considere exagero. Eu não. lol) passada a esperar que o fisioterapeuta do guimarães entrasse em campo para assistir jogadores da sua equipa que, esranhamente, de 5 em 5 minutos se estatelavam no relvado. Os outros 50% foram passados à espera que o jogador assistido saísse do relvado, não com a ajuda da mota, nem sequer pela linha lateral mais próxima. Os 5 minutos de desconto então foram de um gajo perder a cabeça. Lançamento para o benfica, Desmarets põe-se à frente de di maria que marcava, leva com a bola. Árbitro da o 2º amarelo, expulsa, e desmarets sai, obvia e calmamente, pela linha oposta. Recordo que desmarets foi expulso por obstruir um lançamento lateral o que, necessariamente, implicava que ele estivesse a menos de 1 metro de uma linha lateral. Adivinhem qual foi a por que ele saiu?? Putaria do crlo! Não são desculpa, pq um gajo tem que contar cm estas "jogadas", mas fds, é do mais sujo que há.

Quanto ao i e à sua cobertura desportiva, deixo aqui um caso que, na altura, me chamou a atenção.

http://odespretensioso.blogspot.com/2009/08/psiquiatria-de-bancada.html

Nalitzis Krpan disse...

Tive a ler esse texto do Daniel Sampaio. É um bocado esticado, sem dúvida. Mas o i tem títulos muito apelativos que podem ser enganadores. Lembro-me de um que falava no complexo de inferioridade do Sporting em relação ao benfas, e depois a notícia falava na discrepância na média de alturas. Primeiro estranhei, depois achei delirante a ideia. Percebo que às vezes seja esticada essa tal interpretação livre. Mas há um gosto diferente na leitura. Não se pode é olhar de forma fechada para a coisa. Para mim é simples, se quero ver estatísticas, vou ao record. Se quero interpretação, tenho-me a mim, alguns amigos e uns quantos comentadores, se quero ler sobre futebol, só porque o tema é bom, o i costuma ser interessante.

Quanto às esperas no jogo com o guimarães, eu percebo o síndrome de que falas. muitas equipas à medida que o jogo se aproxima do final têm tendência para desmaios e maior fragilidade. Acho que poderiam estudar o caso. Quanto aos 7 minutos, continua a ser complicado. Sou contra esse absurdo de se esticar o tempo indefinidamente (há uns dez anos o porto ganhou ao campomaiorense já passavam quase dez minutos de desconto - razões para desconfiar desse jogo é ser meiguinho, tendo em conta que o árbitro era o martins dos santos).

Acho preferível dar logo amarelo quando estão a engonhar a bater livres. E acho preferível que o árbitro se "distraia" na reentrada de um jogador pseudo-lesionado. Serve de aviso para os outros e não mata tanto o ritmo de jogo. Um árbitro não pode ser palerma numa altura dessas. Dar mais minutos à toa só vai provocar mais "lesões" à toa.

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