quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Assobiar ou não assobiar, eis a questão

O gesto do Cardoso ao público depois de ter marcado aquele complicadíssimo golo (até o comentador da rtp disse que foi, provavelmente, o golo mais fácil da carreira do cardozo) suscitou, nas interwebs em geral e na opinião pública em geral também, um curioso fenómeno de dualidade de opiniões. O gajo marca o golo (mas impressionante a forma como até a rematar ele caga um bocado no assunto), faz o gesto – do género(e aqui estou a imaginá-lo com voz fininha) “calem-se caralho! Tão a ver porque é que eu pareço sempre triste? Hein? Hein?”, e o público –
CABRÃOVAIPOCARALHOFODASSEFILHODAPUTABUUUU, etc. De um lado, há quem opina mais ou menos isto: “então manda calar o patrão?” e do outro, quem sugere que “fez muito bem, eles não merecem nada, olha agora, a assobiarem!”, o que me faz levantar a questão – legítima, a sério – de: quem é que tem razão? No meio desta palhaçada toda, quem é que faz mais sentido?

Um jogador é pago pelo clube e, indirectamente, claro, pelo dinheiro dos sócios e adeptos. Mas lá porque eu pago o ordenado a um polícia isso não me dá o direito de chegar lá e dar-lhe uma pêra no abono. E tal como um paciente me paga o ordenado isso não lhe dá o direito de me peidar na cara quando o estou a examinar. “I own you, beeeotch!”. É coisa que não seria certa. Até aqui tudo bem.

A questão parece-me ser outra: não é o adepto que lhes paga o ordenado e que por isso manda ele, mas é o adepto que paga para ir ver o jogo ao estádio e não tem de aturar aquelas merdas. Ou será que tem? Um adepto tem o direito a assobiar a equipa – e um jogador – quando não jogam um caralho? Certamente que sim. O mesmo se faz na ópera, por exemplo, e ambos sabemos que as pessoas que vão à ópera fizeram mais que a quarta classe. A malta paga o bilhete. Pode ser deselegante, mas ambos sabemos que isso no futebol não conta muito. Ou seja, não estaremos aqui perante uma paixão clubística: apenas uma mera constatação de que quem paga pa ver uma merda medíocre tem o direito de se insurgir contra ela. Em minha opinião, quem paga para ver, como Jesus disse ontem, um cardozo balofo, pesado, lento, com cara de que todos lhe devem e ninguém o enraba, e do Benfica (ainda por cima), deve poder assobiar o gajo.

Mas depois entra aqui o efeito clubite, ou o caralho, defendido por aqueles que defendem que um clube não é grande, é enorme, ou por aqueles como aquele gajo que conheço que todos os dias ao acordar põe o hino do porto a tocar enquanto se barbeira, ou por aqueles chamados Sousa Cintra, que é o seguinte: isto é muito mais que qualquer coisa, isto é tudo, isto é a vida, lealdade louca e santa, isto é o Porto/Beufas/Sportem. Não assobiem que o homem é da casa, ele precisa sempre é do apoio da malta. Mesmo que, suponhamos, a seguir a festejar o golo virasse o cú pa nós, cagasse um valente monte fumegante de merda, apontasse para nós, depois para a poia, e sorrisse à puta.

E o que dizer disto? Bom, a resposta acaba por ser mais simples do que parece. A maluqueira mede-se na proporção semelhante ao número de bujardas que alguém profere. O veredicto, assim, é simples: a tertúlia condenou os assobios ao cardozo. Ergo, os adeptos benfiquistas que assobiaram o cardozo é que tomaram a atitude moralmente correcta. Ninguém pode admitir que aquela malta da tertúlia é sensata.

Vai pa casa, gordo lento que chora da merda! Buuuu!

E parabéns por ontem ao Benfica.

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