Sou contra a violência no futebol em todas as situações. Todas, é como quem diz.
Recordo-vos Paulinho Santos.
Figura histórica do futebol nacional, recordo-o como O Caceteiro. Um jogador banal cuja única capacidade residia na brutalidade com que desfazia canelas (e queixos e narizes, etc...) dos adversários. Popularizou-se pelos duelos que, pelo menos duas vezes por ano, tinha todo o gosto em desempenhar com JVP. Não se suportavam, e na altura em que JVP estava no benfas e o benfas defrontava a nortada, eu ria. A Liga prognósticos, a existir na altura, abrangeria para além dos resultados a possibilidade de se tentar adivinhar quantos jogadores (e quais) seriam expulsos.
Paulinho Santos agredia alegremente pelos campos nacionais. Um dia, encontrou um argentino pela frente. Jogador já experiente, que parecia uma autêntica preguiça. Mas Acosta era sneaky. Como adepto, delirei com os golos que marcava (avançado puro, discreto, surgia apenas para matar). Mas era argentino (nada a fazer quanto a isso, como se viu recentemente com Aimar em Leiria). Argentino tem de ser sneaky - é uma teoria que tenho há muito. Se não é sneaky não é argentino puro. Acosta não só era puro, como era profissional nesse aspecto. Quando hoje em dia se fala em simular penaltys, as pessoas esquecem Acosta, que caia ludibriando até quem (não) lhe tinha feito a falta. Mas Acosta não era só enganador. Era um argentino da linha dura.
Um dia, encontrou Paulinho Santos pela frente. O rafeiro do porto lá vinha preparado para morder canelas. à dentada, ao murro, ao pontapé, Paulinho Santos era um homem feliz quando via um adversário no chão. Taça de Portugal. Porto - Sporting. O resultado pouco importa para esta memória. Estamos no meio campo, disputa de bola, caem os dois. Acosta no chão. Paulinho Santos a cair, punho cerrado, murro, alegria!. Paulinho Santos, igual a ele próprio, mostrava-se feliz. Cumprira os seus desígnios: agredir discriminadamente. Mas tinha provocado Acosta (o meu Beto favorito, entenda-se, o único de que gosto).
Não foi preciso muito tempo. Bola vai alta, saltam os dois, não vimos à primeira o que se passou mas o jogo continua e Paulinho Santos fica no chão... Cotovelo nos queixos, fractura e de repente Paulinho Santos tem um novo sorriso: desmantelado. Sai lesionado. Vinham aí jogos de selecção. Mas Paulinho Santos não pôde ir. Depois disso não voltaria a ser convocado. Quando voltou a jogar pelo Porto já perdera preponderância e encaminhou-se calmamente para o esquecimento. Acosta deu-lhe forte e feio. E Paulinho Santos aprendeu da pior maneira.
Temos pena.
Post Scriptum [assim, todo intelectualóide]:
Antes de terminar a carreira, Paulinho Santos ainda contou com outro histórico (e burro) trinco tuga ao seu lado: Emílio Peixe. Paulinho junta-se ao homem da Nazaré num ano em que foram inúteis ao porto, mas em que o porto se pôde orgulhar de ter no seu plantel dois dos mais históricos caceteiros do futebol nacional. Era raro vê-los nos jogos. Mas aquela merda nos treinos devia ser um fartote.
4 comentários:
o resultado até importa.
ganhou o Porto.
Percebeste mal. O resultado claro que importa. Taça e tudo o mais. Mas não na minha memória sobre o Paulinho Santos. Para ele foi o princípio do fim. E os relvados nacionais foram ficando ligeiramente mais saudáveis.
Por norma sou contra a violência, ainda mais num desporto que é visto por tantos milhões. Tenho no entanto que confessar que delirei com a amolgadela que o Acosta fez na fronha do energúmeno do Paulinho Santos. No fundo, (e acreditando que este foi o princípio do fim da carreira deste jagunço sem nível) apenas recebeu o que tanto distribuiu ao longo da carreira, sendo o João Pinto a sua mais mediática vítima.
Foi-se meter precisamente com o gajo mais matreiro que o Sporting tinha na altura. O Acosta levou, calou-se e esperou pela altura certa para lhe dar uma valente marretada com ida ao bate-chapas garantida.
Apenas colheu o que levou anos a semear...
É bem verdade, Pedro. Bem verdade.
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